Ao tratar de TIC, EAD e Humanidades, num dos trabalhos do Doutorado, considerei a distância entre os níveis tecnológicos, nos vários campos do conhecimento, e nas realidades humanas no planeta é perigosamente grande e que enquanto uma minoria se abastece de informação e conhecimento científico, faz uso das vantagens das inovações, a maioria padece das deficiências mais primárias da vida humana e neste contexto está a Educação, a EaD, portanto.
Em outras reflexões importantes formulei questões sobre se os dirigentes de instituições de ensino estão informados suficientemente sobre essas realidades; têm um posicionamento ideológico e ético capaz de possibilitar uma reflexão crítica na escolha das melhores modalidades de ensino, de modo a garantir uma coerência educacional e qualidade de ensino? Como considerar a proposta da UNESCO: o Aprender a Ser, nas diversas realidades sócio-culturais, diante da intervenção do poder dominante?
Aos educadores, ficam estas perguntas! A Educação à Distância é uma valiosa fonte de pesquisa dessas realidades e das conseqüências das desigualdades. A ampliação dos canais de acesso à informação e a motivação para a participação no mundo global, através das redes de comunicação e a sua legítima intervenção como instituo humano torna a EaD capaz de defender os direitos mais legítimos da humanidade. Neste propósito, devemos refletir sobre outra questão: em Educação desenvolvemos igualmente tecnologias e humanidades?
Tecnologias e humanidades são conceitos de ampla complexidade. Envolvem reflexões sobre “o bem e o mal, o verdadeiro e o falso, o útil e o perverso” (LE MOIGNE, 1999), “o conhecer... descrever para reencontrar” (BACHELARD, 1987).
A autonomia da Educação, no exercício da função de extrair o melhor dos saberes humanos, de dispor esses saberes em forma de recursos para a qualidade de vida humana no mundo global, está longe de se efetivar. O mundo parece não permitir uma ambiência favorável para que isso ocorra. O significado de qualidade diverge em momentos e espaços; parece que o ser humano e suas comunidades optam por constituir realidades distintas, onde as potencialidades de cada um seja um diferencial de competitividade.
A natureza humana é a essência. Com ela, educadores e sistemas educacionais devem se ocupar, antes de se ocuparem com os meios educacionais e tecnológicos.
A complexidade destas questões deve ser tomada por princípio, meio e fim de todas as modalidades educacionais e dos avanços na tecnologia. Parece que a complexidade humana vista sob a ótica da ética, nos reserva uma única possibilidade de ação: aceitar a diversidade e extrair dela os caminhos da convivência e do desenvolvimento sustentável e, qualquer recurso proposto deve ser validado por este princípio-ação.
A EaD pode servir de caminho de comunicação e sistematização da diversidade humana e da significação real das contribuições dos povos, dispostas em todos os espaços humanos. Como espécie, configuramos hoje uma nova estrutura social, uma nova linguagem, com novos significados para relações e vida e é possível que os povos menos favorecidos pelo progresso material estejam motivados para obtê-los e vejam na EaD um caminho para o acesso ao mundo dos negócios, para satisfazer suas necessidades primarias, exclusivamente.
Cabe então, aos educadores, um posicionamento firme no cumprimento da missão de Educar e o devido tratamento das variáveis desta realidade para promover, gradativamente, os ajustes filosóficos e metodológicos da Educação. Cabe a eles criar mecanismos educacionais na EaD capazes elevar os níveis de suficiências das comunidades, de modo a possibilitar o desenvolvimento integral para a sustentabilidade, a partir de uma distribuição equilibrada do conhecimento.
“Povo que não tem memória do seu passado, não tem futuro” (AKIO MORITA).
AUTONOMIA E CONSCIÊNCIA CRÍTICA ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO, DA EAD.
Muitos ainda pensam que educar é mudar comportamentos. Neste conceito está implícita a ação educativa corretiva, de ajustes de comportamentos do aluno, para atender a um determinado padrão, o que sugere a avaliação de sua adequação à conformidade a um padrão de desempenho. Este princípio educativo sujeita a autonomia do indivíduo a uma verdade “maior” já estabelecida.
É sutil, portanto, a essência da missão educativa. Parece não haver abertura para identificar as forças e fraquezas dos alunos relativas às suas próprias aspirações, às suas capacidades humanas e dificuldades no exercício do seu potencial para a qualidade da sua vida e de sua comunidade, suas motivações e possibilidades de desenvolvimento, suas descobertas e contribuições. Porem, educar é promover a ampliação da consciência critica e reflexiva do sujeito individual e coletivo, muito mais e muito antes do que mudar comportamentos.
As grandes exigências incluem visão e ação sistêmicas (Morin, ??), analise de cenários mundiais, tendências e, principalmente, visão educativa crítica capaz de priorizar os seres humanos sobre os aspectos formais da sociedade e dos modelos sociais reguladores, que dirigem o homem para caminhos pouco humanos.
A consciência reflexiva e a consciência crítica (Heemann, 2001) passam a ser requisitos primeiros no perfil do docente. A sua sensibilidade deverá se voltar à essência do ser humano e não mais às suas finalidades e utilidades num sistema social que prioriza o lucro e depreda o ambiente humano. Terá que redesenhar o ambiente de aprendizagem, os programas, os objetivos educacionais, específicos e instrucionais, as relações em rede, a relação ensino-aprendizagem e sua atitude perante o mundo.
O equacionamento adequado da problemática educacional envolvendo a utilização das tecnologias requer a revisão de princípios, noções, critérios, conceitos e valores dos novos paradigmas científicos que colocam em xeque o atual modelo de construção do conhecimento fundamentado num movimento intelectual ultrapassado.
A autonomia é condição para a consciência crítica. Sem a resolução da dependência, a crítica nada mais é que reação, sem valor para o desenvolvimento humano e educacional.
Por fim, acrescento que a dificuldade de aferir resultados da ação da EaD no desenvolvimento de tais atributos humanos reside no fato de serem insuficientes as pesquisas e os estudos disponíveis no universo da EaD, de modo a permitir uma analise satisfatória.
"O ensinar inexiste sem aprender e vice-versa", e nessa dinâmica os educandos se modificam continuamente em sujeitos autores e construtores dos seus saberes. Por isso, "ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para sua produção ou a sua construção", (Freire, 2003) ou “ampliação da consciência”, (RUBENS ALVES, 2008).
Aguardo seus pareceres. Saludos cordiales. Zaide Sá.
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